Saudações!
Uma das maiores invenções da Amazon, sem dúvida, foi o Kindle. Mas não somente o aparelho, como também o aplicativo que permite ler em qualquer lugar, usando o celular ou o tablet. Com isso, aquelas intermináveis horas de espera em filas de lotérica, consultórios, bancos e (insira sua fila preferida aqui) passam muito mais rápido.
O livro de hoje é um desses que li em momentos de espera, onde não havia nada a fazer a não ser manusear o celular enquanto aguardava a minha vez. Ao invés de ficar rolando a linha do tempo do Facebook ou do Instagram, prefiro os livros.
Para essas situações, prefiro livros menos técnicos, ficção, crônicas, onde a leitura pode ser interrompida a qualquer momento sem maiores consequências.
A obra de hoje é esse tipo de leitura: A pátria de chuteiras, de Nelson Rodrigues, é uma coletânea de artigos publicados pelo jornalista durante seus anos cobrindo o futebol nacional. A maioria deles trata da Seleção Brasileira, com algumas exceções falando de futebol carioca e principalmente, de Garrincha.
O texto cobrem um período que vai de 1958 a 1974, aproximadamente, época que o Brasil foi tricampeão mundial de futebol.
A leitura é uma delícia. É como se estivesse vendo com meus olhos aqueles craques desfilando suas habilidades pelos relvados brasileiros e estrangeiros. Alguns lances eu assisti, mas nas palavras de Nelson, os gols parecem ainda mais belos do que realmente aconteceram.
O foco central dos seus textos é o futebol, mas ele distribui suas críticas para a sociedade brasileira no meio de suas crônicas. Salvo engano, o complexo de vira-lata do brasileiro é uma expressão cunhada pelo autor.
Abaixo, alguns (muitos) trechos que destaque do livro e achei interessantes:
Poderão vociferar: — “E os milhões?” Eu continuarei argumentando que nós só vivemos e só morremos por valores gratuitos.
Os lorpas, os pascácios poderão objetar que se trata de futebol, apenas o futebol. Não é só o futebol. É, sobretudo, o homem brasileiro.
Em 50, não foi apenas um time que fracassou no Maracanã. Foi o homem brasileiro, como em Canudos. Em 58, quem venceu? O Brasil. Quando Bellini apanhou o caneco de ouro, era o novo homem brasileiro que se proclamava.
Em suma: é um Narciso às avessas que cospe na própria imagem. Dirá alguém que será um caso único. Mentira. Único, vírgula. Na verdade, tremo ao vê-lo porque sinto, na sua figura, um símbolo nacional irresistível.
O brasileiro reage ao bem que lhe fazem com uma gratidão amarga e quase ressentida.
Deslumbrante país seria este, maior que a Rússia, maior que os Estados Unidos, se fôssemos 75 milhões de Garrinchas.
Não sabemos admirar, não gostamos de admirar. Ou por outra: — só admiramos num terreno baldio e na presença apenas de uma cabra vadia. Ai de nós, ai de nós! Somos o povo que berra o insulto e sussurra o elogio.
Então eu vi que a tragédia do subdesenvolvimento não é só a miséria ou a fome, ou as criancinhas apodrecendo. Não. Talvez seja um certo comportamento espiritual. O sujeito é roubado, ofendido, humilhado e não se reconhece nem o direito de ser vítima.
Os pessimistas (que sempre os há) rosnam pelas esquinas e pelos botecos: — “Humildade, humildade.” Mas é uma abjeção falar em humildade no Brasil. Olhem este povo de paus de arara. Ante as riquezas do mundo, cada um de nós é um retirante de Portinari, que lambe a sua rapadura ou coça a sua sarna. A humildade tem sentido para os césares industriais dos Estados Unidos. Já o pau de arara precisa, inversamente, de mania de grandeza.
O ser humano pensa demais e é pena, pois a vida é, justamente, uma luta corporal contra o tempo. Repito: — o ser humano vive pouco porque pensa muito.
Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.
Eis a opinião dos brasileiros sobre os outros brasileiros: — não temos caráter.
Chamo os nossos jogadores de paus de arara sem nenhuma intenção restritiva. O pau de arara é um tipo social, humano, econômico, psicológico tão válido como outro qualquer. Tem potencialidades inéditas, valores ainda não realizados.
E daí? Com um mínimo de ridículo não há herói, não há santo, não há profeta.
E, de fato, é muito difícil elogiar o Brasil no Brasil, é muito difícil elogiar o brasileiro entre brasileiros.
Eu realmente gostei do livro, vou procurar outras obras dele e ver se são tão boas quanto.
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A PÁTRIA DE CHUTEIRAS – NELSON RODRIGUES
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hummm….e ?
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Obrigado pelo comentário, mas não entendi o que quis dizer
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