
Quando se fala em reforma da previdência, principalmente na mudança de regimento para o sistema de capitalização, uma pergunta bem comum é:
Como que uma pessoa que recebe apenas um salário mínimo poderá juntar dinheiro para a aposentadoria, se o dinheiro mal dá pra sustentar sua casa e família?
Abaixo descrevo meu ponto de vista, ressaltando que parto do princípio que mais nenhuma regra será alterada em relação ao INSS, apenas que a contribuição, ao invés de ir para os cofres do governo federal, irá para um investimento escolhido pelo trabalhador. Ou seja, ainda haverá INSS patronal, FGTS, e os descontos em folha de pagamento serão os mesmos aplicados hoje em dia pelo governo.
Partindo da premissa de que o salário mínimo atual é de 1000 reais, com contribuição ao INSS de 8% por parte do empregado e de 11% por parte do empregador, temos que todo mês o funcionário terá cerca de 190 reais para aplicar. Considerando a aplicação desse valor mensalmente, durante 45 anos (entre os 20 e 65 anos), em um investimento que renda 4% ao ano de juros reais – bem abaixo da média histórica, que pode ser vista neste link http://www.paulogala.com.br/breve-historico-da-taxa-de-juros-real-no-brasil-2/ – , ao final do período o trabalhador terá acumulado R$ 280.970,22.
Considerando que o trabalhador viva até os 100 anos, logo, que teria que sobreviver do valor acumulado por mais 35 anos, rendendo a mesma taxa real de 4% ao ano, ele poderia sacar mensalmente R$ 1.237,33, um valor 23% superior ao salário mínimo, ou então R$ 927,20 infinitamente, para sempre.
Agora, se os investimentos fossem bem ruins, algo como 2% ao ano de taxa de juros reais, mantendo todas as outras premissas, a aposentadoria cairia para 551,35 reais mensais durante 35 anos.
Considerando que o governo precisasse completar o valor necessário para se chegar ao salário mínimo, ainda assim seria uma vantagem para o governo. Ele precisaria gastar apenas 55% do valor do benefício, ao contrário dos 100% que ele paga hoje. Isso por si só já traria uma diminuição bem grande nas atuais despesas do governo federal. Hoje, a previdência custa 767 bilhões de reais ao ano, e continua crescendo, como você pode ver neste artigo.
Chamaram minha atenção para o fato que ainda assim a previdência seria deficitária, já que o governo federal precisaria cobrir esse salário mínimo para as pessoas, mas não teria mais a arrecadação do INSS para fazer o pagamento. Sim, é verdade, mas ainda assim o déficit da previdência seria menor. Explico:
Segundo essa matéria do UOL, o Brasil tem 19 milhões de aposentados, sendo que 2/3 deles recebem um salário mínimo. Exagerando que o governo precisasse inteirar o salário dessas 12,66 milhões de pessoas, todo mês, com os 450 reais que faltaram para atingir o valor do salário mínimo, o déficit anual seria de 68 bilhões de reais, contra os 195 bilhões de déficit que a previdência teve em 2018. Uma redução de 65% do déficit anual. É provável que essa redução seria ainda menor, pelos fatos aqui elencados.
Outra vantagem que vejo para o sistema de capitalização é que ele pode ficar como herança caso o beneficiário deixe essa vida antes do planejado. A família poderia continuar recebendo um benefício garantido após a morte do aposentado, ou então resgatar o valor total dos investimentos e aplicá-lo nos fundos dos filhos ou netos, por exemplo.
Não considerei FGTS e contribuições sobre outros rendimentos (décimo terceiro, férias etc), o que faria aumentar o valor total acumulado ao longo dos 45 anos, bem como o valor de benefício mensal que poderia ser resgatado.
Essa simulação também mostra o poder dos juros compostos: mesmo com um valor baixo, se for aplicado todo mês, de forma constante, durante um longo tempo, pode propiciar um bem-estar na velhice, com um benefício até maior do que o seu salário atual. Por isso é importante que você comece a investir na sua aposentadoria, na sua velhice, desde agora. O seu eu futuro agradecerá imensamente o seu esforço atual.
Leia também: Dê adeus a aposentadoria (estatal)
Você pode fazer e refazer as simulações com os valores de sua preferência nos nossos simuladores.
Sobre o tema, recomendo que sigam o Pedro Fernando Nery, uma das maiores autoridades em reforma da previdência. Ele também lançou um livro recentemente sobre o assunto, junto com Paulo Tafner:
REFORMA DA PREVIDÊNCIA – POR QUE O BRASIL NÃO PODE ESPERAR
Espero que tenha sido útil! Se gostou, compartilhe com seus amigos!
Muito bom VR. Conclusões semelhantes aos estudos que faço. Pequenos montantentes poupados por um longo tempo e bem investidos garantem uma renda futura razoável. Isto que vc considerou viver 100 anos, o que é bem puxado já que vários estudos já apontam estabilização e em muitos casos até diminuição da longevidade dos trabalhadores principalmente dado ao estresse excessivo e problemas de obesidade e cardíacos.
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obrigado! considerei o pior caso, para não dar muita margem a dúvidas se a renda seria suficiente ou não
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E tem muita gente se iludindo seguindo falácias de políticos que nada tem a acrescentar. Tentam justificar a bomba que carregamos acusando somente políticos, regalias, mas se esquecendo que estamos vivendo mais e melhor. Abraço
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obrigado pelo comentário! Volte sempre!
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Eu faria apenas uma ponderação: um trabalhador de salário mínimo não vai contribuir 45 anos. Provavelmente, sua contribuição será o tempo mínimo de 25 anos…
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sim, é provável que sim. Mas também é raro alguém ganhar a vida inteira um salário mínimo, uma vez que esteja contratado formalmente.
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A capitalização é o melhor método com certeza, porque incentiva a poupança.
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Obrigado pelo comentário, Felipe. Volte sempre!
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Marcelo, concordo em quase tudo. Mas dizer que o “Trabalhador Brasileiro” vai trabalhar 45 anos e no final vai se aposentar com mais de um salário mínimo é uma falácia. Digamos que ele trabalhe metade disso, pra termos números mais à nossa realidade, daí ele já receberia +/- 50% do salário minimo ou menos. A gente mora em um país em eterno desenvolvimento e o nível de educação que nossa população tem é ridículo. Apesar de eu concordar com fazer cada um poupar o seu, não vai funcionar, pq o povo é burro, burro mesmo, não tem base, nem estrutura, nem nada.
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obrigado pelo comentário, xará. sim, é possível que a pessoa trabalhe menos tempo, assim como também é possível que ela não ganhe somente um SM durante toda a vida, ou que ela vá viver até os 100 anos. A conta que fiz foi baseada numa premissa simples, apenas para exemplificar e mostrar que é possível, e não é nenhuma loucura do tipo precisar guardar 50% do salário.
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Excelente artigo.
Apenas uma duvida, visto que grande parte dos trabalhadores são empregados de micro e pequenas empresas que estão enquadradas no SIMPLES, não teria esse acréscimo de 11% sobre a contribuição, correto?
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Helio, obrigado pelo comentário.
Confesso que não sei lhe responder isso.
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Se a reforma passar o sujeito que ganha um salário minimo não contribuirá por 45 anos para se aposentar por idade aos 65 anos e sim pelo tempo minimo que será 20 anos , portanto o calculo da capitalização teria que ser feita levando em conta 20 anos e não 45 anos , outra coisa na proposta de capitalização do Paulo Guedes não haveria a contribuição do empregador , então seria somente os 8% do empregado os 11% cairiam fora o valor aferido no final seria bem pequeno , levando ao governo se ele quiser garantir o mínimo ter que aportar muito mais recursos .
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