Caros leitores, saudações!
O livro comentado desta semana é Os Bruzundangas, de Lima Barreto. Neste livro, o autor conta seus relatos de um país imaginário que ele teria visitado, descrevendo os costumes, tradições e a sociedade deste lugar interessante. A realidade é que o país não existe e o livro nada mais é do que uma fora velada de Lima Barreto criticar a sociedade brasileira.
Talvez seja apenas uma impressão de quem não leu muito desses autores, mas a escrita de Lima Barreto me lembra Nelson Rodrigues. Talvez o segundo tenha se inspirado no primeiro, vai saber. O jeito de escrever, as criticas aos costumes da sociedade… se alguém me dissesse que Nelson escreveu os Bruzundangas, eu acreditaria na hora.
E sobre a história do livro, o que posso dizer é que muitas das críticas feitas há quase 100 anos ainda são extremamente válidas e atuais. Infelizmente, parece que nosso país ficou parado no tempo.
Curiosidade não necessariamente relacionada ao conteúdo da obra: o livro foi lançado em 1922, ano marcante pela ocorrência da Semana de Arte Moderna.
Abaixo, alguns trechos sobre a sociedade bruzundanguense:
Pobre terra da Bruzundanga! Velha, na sua maior parte, como o planeta, toda a sua missão tem sido criar a vida e a fecundidade para os outros, pois nunca os que nela nasceram, os que nela viveram, os que a amaram e sugaram‑lhe o leite, tiveram sossego sobre o seu solo!
“Os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar‑nos de outros ladrões”.
Quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.
Só querem a aparência das coisas. Quando (em geral) vão estudar medicina, não é a medicina que eles pretendem exercer, não é curar, não é ser um grande médico, é ser doutor; quando se fazem oficiais do exército ou da marinha, não é exercer as obrigações atinentes a tais profissões, tanto assim que fogem de executar o que é próprio a elas. Vão ser uma ou outra coisa, pelo brilho do uniforme. Assim também são os literatos que simulam sê‑lo para ter a glória que as letras dão, sem querer arcar com as dores, com o esforço excepcional, que elas exigem em troca.
Não há como discutir com eles, porque todos se guiam por ideias feitas, receitas de julgamentos e nunca se aventuram a examinar por si qualquer questão, preferindo resolvê‑las por generalizações quase sempre recebidas de segunda ou terceira mão, diluídas e desfiguradas pelas sucessivas passagens de uma cabeça para outra cabeça.
O país vivia de expedientes, isto é, de cinquenta em cinquenta anos, descobria‑se nele um produto que ficava sendo a sua riqueza. Os governos taxavam‑no a mais não poder, de modo que os países rivais, mais parcimoniosos na decretação de impostos sobre produtos semelhantes, acabavam, na concorrência, por derrotar a Bruzundanga; e, assim, ela fazia morrer a sua riqueza, mas não sem os estertores de uma valorização duvidosa. Daí vinha que a grande nação vivia aos solavancos, sem estabilidade financeira e econômica; e, por isso mesmo, dando campo a que surgissem, a toda a hora, financeiros de todos os seus cantos e, sobretudo, do seu parlamento.
O título — doutor — anteposto ao nome, tem na Bruzundanga o efeito do — dom — em terras de Espanha.
A Constituição da Bruzundanga proíbe as acumulações remuneradas, mas as leis ordinárias acharam meios e modos de permitir que os doutores acumulassem. São cargos técnicos que exigem aptidões especiais, dizem. A Constituição não fez exceção, mas os doutores hermeneutas acharam uma.
A primeira coisa que um político de lá pensa, quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferente do resto da população.
Cada mandachuva novo traz sempre em mente aumentar o número de legações, de modo que não há país no mundo em que a Bruzundanga não tenha um batalhão de representantes. Muitos desses países não mantêm, com a curiosa república que venho descrevendo, relações de espécie alguma; mas, como é preciso mandar alguns filhos de “figurões” para o estrangeiro, a munificência dos poderes públicos não trepida em criar nelas legações dispendiosas. Há lá até quem reze para que certos países se desmanchem e surjam da separação novos independentes, permitindo o aumento de legações.
Houve mesmo disposições originais que merecem ser citadas. Assim, por exemplo, a exigência principal para ser ministro era a de que o candidato não entendesse nada das coisas da pasta que ia gerir. Por exemplo, um ministro da Agricultura não devia entender coisa alguma de agronomia. O que se exigia dele é que fosse um bom especulador, um agiota, um judeu, sabendo organizar trusts, monopólios, estancos, etc.
Se algum recalcitrante, à vista de qualquer violação da Constituição, apelava para a Justiça (lá se chama Chicana), logo a Corte Suprema indagava se feria interesses de parentes de pessoas da situação e decidia conforme o famoso artigo.
A constituição da Bruzundanga era sábia no que tocava às condições para elegibilidade do mandachuva, isto é, o presidente. Estabelecia que devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total. Nessa parte a constituição foi sempre obedecida.
Pode ser definida a feição geral da sociedade da Bruzundanga com a palavra — medíocre.
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Até semana que vem, com mais um livro!
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