Começo de ano e você decide verificar o quanto seus investimentos renderam no ano que passou. Então você abre seu controle e descobre que teve incríveis 50% de rentabilidade!
É um resultado verdadeiramente monstruoso, excepcional. Daqueles para deixar qualquer um feliz, muito feliz.
E então você se empolga, acredita que um resultado assim será perene, eterno, o novo normal, e que em breve você estará acendendo charutos cubanos com notas de 100 dólares na sua belíssima mansão a beira-mar em alguma praia caribenha.
Só que não. Isso não vai acontecer.
Como eu sei disso? Estatística!
Nessa área do conhecimento humano existe uma coisa chamada regressão para a média. Ou seja, aquele resultado mastodôntico de 50% ao ano, no próximo ano poderá ser muito bem um belo resultado negativo de 30%.
Esse conceito estatístico é bem conhecido no mundo esportivo, principalmente nos esportes americanos, como o beisebol, basquete e futebol americano, que tem estatísticas para quase tudo.
Para resumir o conceito de forma grosseira, ele funciona assim: baseado nas estatísticas de ataque e defesa dos times, os analistas conseguem projetar o número de vitórias esperadas para cada equipe.
Vou pegar um exemplo real para ficar mais fácil de entender. Nos esportes americanos, que são repletos de estatísticas, é comum uma equipe ter um desempenho fabuloso em uma temporada, e na temporada seguinte, ter um desempenho apenas medíocre, mesmo mantendo jogadores, técnicos, e enfrentando praticamente os mesmos adversários. Isso acontece pelo fator sorte, ou acaso, chame como quiser. Estatisticamente, é esperado que um time vença um determinado número de jogos. Times que tem um desempenho muito acima ou muito abaixo desse número esperado, tiveram sua temporada influenciada pela fortuna: sorte, vitórias em jogos com placares apertados, por exemplo. Então, nesse caso, se o time mantiver o mesmo padrão de desempenho na próxima temporada, a tendência é que ele tenha um desempenho inferior, mais próximo ao número de vitórias esperado.
No futebol americano, times com desempenho fora da curva, tanto para cima quanto para baixo, são bem comuns. É que o esporte é muito afetado pela aleatoriedade, pelo acaso, já que a temporada tem apenas 16 jogos. É uma amostra pequena. Quanto menor é uma amostra, maior a variação possível entre os resultados. Em outras ligas, como a NBA (82 jogos) e a MLB (162 jogos), o fator sorte tem um peso bem menor, porque a amostra de dados é bem mais extensa. Com isso, os times tendem a se manter mais próximos ao seu número de vitórias esperadas.
Explicado o conceito, é possível transferi-lo para a nossa vida financeira. No caso, investimentos. Se a média histórica de rentabilidade de um determinado ativo é 10% ao ano, por exemplo, mas no último ano ele rendeu 30%, a tendência é que ele tenha um desempenho inferior em algum momento no futuro, convergindo em direção a média. Então, os próximos rendimentos podem perfeitamente ser de 2%, 5%, ou -20%.
Vale o mesmo para o nosso amigo sortudo lá do começo do texto. O rendimento de 50% ao ano não é perene, e é muito provável que ele tenha retornos negativos nos próximos anos.
Por isso, sempre que você for estudar qualquer investimento no mercado financeiro, olhe sempre o histórico de longo prazo. No curto prazo, pode acontecer qualquer coisa. Mas é o longo prazo que mostra a realidade. Tenha sempre isso em mente quando alguém vier ter apresentar uma “incrível oportunidade” de investir no melhor rendimento do ano passado. A tendência é você se dar mal, porque esse ativo para retornar para seu rendimento médio histórico em breve. É o velho ditado do mercado: rentabilidades passadas não garantem rentabilidade futura.
Para concluir, simplesmente ignore quando ver novamente aquela lista dos melhores investimentos do último mês ou do último ano. Ela não tem importância nenhuma em relação ao desempenho futuro deles. Observe apenas os dados de longo prazo. Olhe para a floresta, e não para a árvore. O ideal mesmo é nem acompanhar rentabilidade, mas se você ainda faz isso, considere o que escrevi aqui.
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Muito esclarecedor seu post, também considero mais importante ter uma meta consistente no longo prazo. Eu uso como métrica conseguir IPCA + 6%. Ás vezes supero, ás vezes fica aquém, mas na média tem conseguido superar essa métrica nos últimos 12 meses.
Conhecer e trabalhar com estatística é uma da melhores maneiras de estimar nossa vida financeira no longo prazo.
Excelente post. Mas sou suspeito pois gosto mt do tema. Vale lembrar também para não tentar usar isso como técnica de predição, tal como Falácia do apostador. Um outro livro para essa já ótima lista é: O andar do bêbado.
Olá Marcelo,
Muito esclarecedor seu post, também considero mais importante ter uma meta consistente no longo prazo. Eu uso como métrica conseguir IPCA + 6%. Ás vezes supero, ás vezes fica aquém, mas na média tem conseguido superar essa métrica nos últimos 12 meses.
Conhecer e trabalhar com estatística é uma da melhores maneiras de estimar nossa vida financeira no longo prazo.
Abraços,
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Valeu pelo comentário! Estatística ajuda muito, pena que ela é tão manipulada.
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Excelente post. Mas sou suspeito pois gosto mt do tema. Vale lembrar também para não tentar usar isso como técnica de predição, tal como Falácia do apostador. Um outro livro para essa já ótima lista é: O andar do bêbado.
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Boa! Obrigado pela indicação, vou colocar na minha lista de leitura!
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